segunda-feira, 15 de julho de 2013

O destino dos Impérios e a Real – Parte 1 a 2

Autor: 

* esta excelente análise que o meu camarada Rider lá do fórum fez é um pouco grande e tive que dividí-la em duas para melhor leitura. Mas compensa ler, pois os pontos levantados pelo Sir John Glubb e a análise do Rider no caso são muito boas e merecem sim uma reflexão
por Rider, do Fórum do Búfalo
Tempos atrás, tropecei num artigo do The Spearhead falando sobre um ensaio de um certo Sir John Glubb: The Fate of Empires.
Como sou um cara curioso, e tava sem a menor vontade de “aproveitar” o Carnaval, acabei pegando esse ensaio (de 26 páginas) para ler e traduzir.
O texto é fascinante. O autor, especialista em História Árabe e general do Exército Transjordaniano, analisou a história de 11 diferentes Impérios e encontrou muitas semelhanças na sua trajetória.
SIR JOHN GLUBB, o “Glubb Paxá”
A melhor forma de descrever Sir John Glubb é como um “Lawrence da Arábia – só que mais esperto”.
John Bagot Glubb nasceu em 1897, seu pai sendo um oficial regular dos Engenheiros Reais [do Exército Inglês].
Ele entrou na Academia Militar Real em Woolwich em setembro de 1914, e serviu junto aos Engenheiros Reais em abril de 1915. Em 1920 ele se voluntariou para servir no Iraque, mas em 1926 renunciou à sua posição e foi aceito num posto administrativo do governo iraquiano.
Em 1930, porém, ele assinou um contrato para servir no Governo Transjordaniano (atualmente a Jordânia). De 1939 até 1956 ele comandou a famosa Legião Árabe da Jordânia, que na verdade era o próprio exército jordaniano. Ele transformou essa força local no mais eficiente exército árabe da região. Apesar disso, ele acabou renunciando ao cargo quando a Jordânia se tornou independente da Inglaterra.
Após se aposentar, publicou 17 livros, a maioria sobre o Oriente Médio, e deu várias palestras na Inglaterra, EUA e Europa.
Ele faleceu em 1986, em Mayfield, Inglaterra.
O ensaio
No seu ensaio, John Glubb chegou à conclusão que todos os Impérios – todos, independente de sua tecnologia militar, religião, valores, comunicações ou meio de transporte – passa por seis fases:
1) Erupção: um povo nas margens de um antigo Império, normalmente morto de fome, com poucas armas ou meios, de repente emerge e conquista o Império anterior. Esse povo é marcado por seu empreendedorismo, força de vontade, dureza, e, sobretudo, agressividade. Por não serem limitados por nenhuma educação formal, regras ou tradições, eles estão sempre dispostos a improvisar para chegar ao seu objetivo final: a vitória sobre o antigo império.
2) Era das Conquistas: após adotar os recursos do antigo império (sejam eles tecnologias ou recursos materiais) o novo Império se expande, conquistando mais e mais territórios. Parece não haver limite para suas conquistas e vitórias. Eles próprios se sentem superiores aos outros povos, achando que seu sucesso é algo divino ou inerente a eles. A educação dos jovens é duríssima, disposta a transformar todos os garotos em futuros guerreiros para a nação – ou, como diríamos hoje, forçar todos, se não em espírito, pelo menos em capacidade física, a se tornarem “machos alfa”.
3) Era do Comércio: agora o Império já está solidificado. Pouco a pouco, o foco dos mais jovens deixa de ser “honra e glória” para se tornar “ouro e lucro”. Ainda existe muito da antiga energia inicial dos fundadores para proteger o Império de qualquer outro povo que resolva se levantar, mas percebe-se que a educação e os objetivos saíram de “servir à Nação” para “servir o meu bolso”. A iniciativa e empreendedorismo deixam de ser bélicos, e se tornam mercantis.
4) Era da Abundância: essa fase representa o apogeu dessa sociedade. As riquezas do mundo parecem afluir a eles sem o menor esforço. Os mais ricos se veem com um problema: o que fazer com tanto dinheiro?
É aqui que, de fato, começa a ocorrer uma mudança na mentalidade desse povo:
- a educação deixa de ser tão pesada como era. Procura-se formar burocratas, comerciantes e executivos para os postos mais lucrativos, não mais soldados ou guerreiros.
- como existe mais dinheiro que coragem, procura-se comprar seus inimigos no lugar de lutar contra eles. Essa Era pode ser marcada pela entrada dos povos submetidos como soldados do Império.
- o uso da guerra para defender a nação é considerado “imoral e primitivo”; “não é que nós tenhamos medo de lutar, mas sim, nós somos civilizados demais para lutar” é o pensamento dominante.
- Imigrantes de toda a parte do Império afluem para as suas maiores cidades, em busca de riqueza e de uma vida melhor, de certa forma ‘diluindo’ a mentalidade original que formou o império.
O autor nos diz que, por mais lealdade que tais imigrantes tenham ao Império, eles nunca estarão tão dispostos a colocar suas vidas e sua riqueza na reta para defendê-lo. Sem falar que sua presença acaba influenciando nas decisões dos líderes do império.
- um “monumento” que marca essa Era é o Muro – para evitar o ataque de bárbaros, ou, como é atualmente, a entrada de estrangeiros ilegais. A nação saiu do ataque para a defesa, se tornou passiva.
5) Era do Intelectualismo – o começo do Fim
“Os barões da indústria e do comércio procuram fama e admiração, não somente ao se tornarem mecenas de obras de arte, música ou literatura. Eles também fundam e doam dinheiro para faculdades e universidades.
(…)
A ambição dos jovens, antes dedicada à obtenção de aventura e glória militar, e que depois se dirigiu para o acúmulo de riquezas, agora se volta para a aquisição de honras acadêmicas.” 
Tem-se a impressão de que o Intelecto pode resolver todos os problemas – porém, quando chega a hora de agir, a nação e os diversos partidos e ideologias se envolvem numa discussão sem fim, e nada é feito. Visto de fora, o Império parece viver numa Era Dourada – mas, por dentro, ele está apodrecido.
6) Era da Decadência: o Império, quando está pronto para cair, é marcado por:
- Pessimismo
- Materialismo
- Frivolidade: o ídolo das multidões não é mais o general, o herói ou santo: é o músico, o ator, ou o atleta. 
- Relaxamento dos costumes e perda da moral: uma linguagem e comportamento mais chulo, normalmente divulgado pelos cantores “pop” de cada época, se torna comum entre o povo.
- a criação de um Estado de bem-estar social (ou assistencialista)
- generosidade para com todos os povos (distribuição de cidadania, criação de universidades e hospitais públicos por todo o Império etc.)
- o surgimento de alguma forma de feminismo
Nessa fase, é somente questão de tempo para que alguma nova raça surja e arrebata as riquezas, território, e cultura do antigo Império.
Essa é a fase em que estamos (mesmo que não estejamos no centro do “Império”).
Um exemplo: O Império Árabe
Vale a pena reproduzir a análise do autor sobre a fase da Decadência do Império Árabe, 11 séculos atrás:
“Na primeira metade do século IX, Bagdá desfrutou do seu apogeu como a maior e mais rica cidade do mundo. (…)
Os trabalhos dos historiadores daquela época ainda estão disponíveis. Eles deploravam profundamente a degeneração dos tempos em que viveram, enfatizando principalmente a indiferença em relação à religião, o materialismo crescente e a frouxidão da moral. Também lamentaram a corrupção dos oficiais do governo, e o fato de que os políticos pareciam sempre acumular grandes fortunas quando estavam no poder. 
Eles comentaram amargamente sobre a extraordinária influência que os cantores populares tinham sobre as massas, principalmente as mais jovens, o que levou a um declínio moral. Os cantores ‘pop’ de Bagdá daquela época acompanhavam suas canções eróticas com o alaúde, um instrumento que lembra o moderno violão. Na segunda metade do século X, como resultado, muita linguagem sexual e obscena se tornou de uso comum, tal que não seria tolerada tempos atrás. Muitos califas assinaram ordens banindo esses cantores ‘pop’, mas poucos anos depois eles retornavam.
Um aumento na influência das mulheres nos negócios públicos também é associado com o declínio da nação. (…) No século X, uma tendência parecida foi observada no Império Árabe, com mulheres exigindo admissão em profissões antes reservadas somente aos homens. Ibn Bessam, um dos historiadores daquela época, escreveu: “O que as profissões de escriturário, coletor de taxas ou pregador têm a ver com as mulheres? Tais ocupações foram sempre limitadas aos homens.” Muitas mulheres estudaram as leis, enquanto outras conseguiram postos de professoras universitárias. 
Logo após esse período, o governo e a ordem pública entraram em colapso, e invasores estrangeiros tomaram o país. O aumento na violência e confusão tornou perigoso para as mulheres andarem desacompanhadas na rua, o que levou esse movimento ao colapso. (…)
Quando eu li essa descrição da Bagdá do século X, eu mal podia acreditar nos meus olhos. Disse pra mim mesmo: “só pode ser uma piada!” Essa descrição podia ter saído do Times [jornal inglês] de hoje. A semelhança nos detalhes era especialmente inacreditável – o declínio do Império, o abandono da moral, cantores pop com seus alaúdes (ou guitarras), a invasão das mulheres no mercado de trabalho, a semana de cinco dias úteis.”
Preciso comentar algo mais?
Ah sim, John Glubb calculou o ciclo de vida dos impérios em aproximadamente 250 anos, ou dez gerações, como o gráfico abaixo mostra:
Tradução: na primeira coluna está as nações, na segunda o anos de surgimento e queda dos impérios e na última coluna o tempo de duração de cada império.
Tradução: na primeira coluna está as nações, na segunda o anos de surgimento e queda dos impérios e na última coluna o tempo de duração de cada império.
Outro detalhe: ele mostrou que a queda dos Impérios varia imensamente, dependendo das forças externas a ele, dos grupos de pressão a volta de Império.
Alguns continuaram existindo após o final do seu ciclo de vida, mas em estado quase permanente de guerra civil e arruaça (como o Romano do Ocidente); e outros, simplesmente tiveram uma troca de cadeiras de um mestre para o outro, como o Império Mameluco do Egito.
Minha impressão é de que o Império Norte-americano acabará devido à estagnação econômica e financeira, se mantendo como nação soberana, mas perdendo gradualmente sua influência e poder no mundo. Um final triste, digno de um doente terminal, por décadas vivendo em estado vegetativo.


fonte do http://forum.bufalo.info/showthread.php?tid=3068


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